sexta-feira, 11 de novembro de 2011

IDENTIDADE DA “RAÇA BRASILEIRA”

A maneira excludente como se organizou a sociedade brasileira levou a desvalorização de muitos elementos que compõem o universo cultural brasileiro, dentre os quais e principalmente os conteúdos culturais dos africanos.

Sempre se fala em igualdade acreditando que isto amenizará as diferenças ignorando a história pessoal, familiar e cultural das comunidades. Precisamos aceitar as diferenças como algo normal, algo que não signifique superioridade de um sobre o outro mas, apenas uma enriquecedora diversidade que resulta numa grandiosa mistura cultural.

Sabemos que a nossa sociedade é racista. O racismo é incutido em nós desde a mais tenra idade, mas é colocado de forma tão velada que nós não nos sentimos racistas e só vemos o racismo no outro.

As referências a história e a cultura das populações africanas e afro-descendentes sempre foram ignoradas e distorcidas, classificando os negros como escravos que viviam a margem da sociedade.

Essa forma de segregação da história e da cultura negra tirou a identidade dos negros e seus descendentes e da população brasileira como um todo já que o Brasil não é formado de uma única etnia e sim da mistura das três raças que conceberam o que podemos chamar de “raça brasileira”.

Portanto, já passou da hora de resgatarmos e valorizarmos a história e a cultura destas três raças para que assim, os brasileiros definitivamente possam ter a sua identidade de raça brasileira, aceitando de uma vez por todas que a raça pura do Brasil é justamente a mistura das três raças, sem superioridade apenas com a diversidade.

Vou transcrever aqui a música intitulada IDENTIDADE, composta e interpretada  por Jorge Aragão.

Identidade

Elevador é quase um templo
Exemplo pra minar teu sono
Sai desse compromisso
Não vai no de serviço
Se o social tem dono, não vai...

Quem cede a vez não quer vitória
Somos herança da memória
Temos a cor da noite
Filhos de todo açoite
Fato real de nossa história

(2x)
Se o preto de alma branca pra você
É o exemplo da dignidade
Não nos ajuda, só nos faz sofrer
Nem resgata nossa identidade

Elevador é quase um templo
Exemplo pra minar teu sono
Sai desse compromisso
Não vai no de serviço
Se o social tem dono, não vai...

Quem cede a vez não quer vitória
Somos herança da memória
Temos a cor da noite
Filhos de todo açoite
Fato real de nossa história

(2x)
Se o preto de alma branca pra você
É o exemplo da dignidade
Não nos ajuda, só nos faz sofrer
Nem resgata nossa identidade

Elevador é quase um templo
Exemplo pra minar teu sono
Sai desse compromisso
Não vai no de serviço
Se o social tem dono, não vai...

Quem cede a vez não quer vitória
Somos herança da memória
Temos a cor da noite
Filhos de todo açoite
Fato real de nossa história


ffMorais

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Dia Nacional da Consciência Negra

No dia 20 de novembro é comemorado o DIA NACIONAL DA CONSCIÊNCIA NEGRA. O dia é celebrado desde a década de 1960, mas só foi oficializado em 09 de janeiro de 2003 através da Lei nº 10.639.
A mesma lei também tornou obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. Com isso, professores devem inserir em seus programas aulas sobre os seguintes temas: História da África e dos africanos, luta dos negros no Brasil, cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional.

A escolha dessa data não foi por acaso, em 20 de novembro de 1695, Zumbi - líder do Quilombo dos Palmares - foi morto em uma emboscada na Serra Dois Irmãos, em Pernambuco, após liderar uma resistência que culminou com o início da destruição do quilombo Palmares.

A homenagem a Zumbi foi mais do que justa, pois este personagem histórico representou a luta do negro contra a escravidão, no período do Brasil Colonial. Ele morreu em combate, defendendo seu povo e sua comunidade. Os quilombos representavam uma resistência ao sistema escravista e também um forma coletiva de manutenção da cultura africana aqui no Brasil. Zumbi lutou até a morte por esta cultura e pela liberdade do seu povo.

A abolição da escravatura, de forma oficial, só veio em 1888. Porém, os negros sempre resistiram e lutaram contra a opressão e as injustiças advindas da escravidão.

No Brasil, diferente de outros países, não houve um Apartheid, política segregadora adotada pela África do Sul, ou o preconceito declarado dos norte-americanos, mas isto na significa que o povo brasileiro não seja preconceituoso.

O problema no Brasil é que o preconceito é velado, o que no meu modo de ver é pior, é mais cruel porque muitas vezes fica difícil de defender (e ou se defender) a pessoa que sofre o preconceito.

Mas que o preconceito existe isto ninguém duvide. Ele está presente em atitudes cotidianas como indicar a entrada de serviço para o negro, ter medo de ser assaltado toda vez que vê um negro, fazer piadinhas infames a respeito de negros, além dos salários diferenciados entre brancos e negros...

Seria cômico se não fosse trágico a existência do racismo no Brasil, um país que não é de uma raça só, mas o resultado de uma grande mistura de raças. É o país de todas as cores para todas as raças.

Sou brasileira, fruto de uma grande miscigenação bem a moda Brasil. O resultado desta mistura é que a minha pele é da cor do trigo maduro, ou seja, tenho uma pele morena. Sou morena da raça negra. Sou parte deste país. Sou cidadã do mundo.

Gosto de todas as cores e respeito todas as raças, mas sou negra e exijo que todas as cores e todas as raças também me respeitem.

O dia da Consciência Negra é comemorado no dia 20 de novembro, no entanto, como negra, vivo todos os dias do ano e todas as horas do dia a realidade da minha raça e a certeza de que somos fortes, valentes, sobreviventes e viventes da trajetória da nossa grande história e portanto, para nós, todos os dias também é dia da raça negra.

Hoje é dia 08 de novembro de 2011, vou tentar postar todos os dias, até o dia 20 de novembro, um pouco de história, cultura, religião, culinária e outros causos relacionados ao negro no Brasil.

Para começar, vou transcrever aqui a letra de uma música que a meu ver traduz um pouco da história da formação da “RAÇA BRASILEIRA”.

O título da música é: CANTO DAS TRÊS RAÇAS, composta por Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro e interpretada por Clara Nunes.

Só para saber, antes de se consagrar como cantora, Clara era uma “puxadora de Pontos Cantados”,  em terreiros de Umbanda e Candomblé, fundamentados na chamada Nação de Angola, cujas batidas dos atabaques são feitas só com as mãos, sem nenhuma baqueta, também conhecida nos rituais Kêtu como Oghdavi.


Ninguém ouviu
Um soluçar de dor
No canto do Brasil

Um lamento triste
Sempre ecoou
Desde que o índio guerreiro
Foi pro cativeiro
E de lá cantou

Negro entoou
Um canto de revolta pelos ares
No Quilombo dos Palmares
Onde se refugiou

Fora a luta dos Inconfidentes
Pela quebra das correntes
Nada adiantou

E de guerra em paz
De paz em guerra
Todo o povo dessa terra
Quando pode cantar
Canta de dor

ô, ô, ô, ô, ô, ô
ô, ô, ô, ô, ô, ô
ô, ô, ô, ô, ô, ô
ô, ô, ô, ô, ô, ô

E ecoa noite e dia
É ensurdecedor
Ai, mas que agonia
O canto do trabalhador

Esse canto que devia
Ser um canto de alegria
Soa apenas
Como um soluçar de dor.






ffMorais